18 de jun. de 2009

A inteligência emocional é um indicador de saúde cerebral melhor que o QI?

Introdução

Sempre que os funcionários tentam progredir no mundo corporativo, eles geralmente escutam o velho ditado "não é o que você sabe, mas quem você conhece". Consequentemente, esses funcionários são incentivados a participar de happy hours com o pessoal do escritório, evitar almoçar sozinho na mesa e a conversar com o chefe se estiverem sozinhos com ele no elevador. Mesmo os funcionários tecnicamente mais proficientes provavelmente não receberão aquela promoção se não conseguirem trabalhar bem em pequenos grupos nem comandar uma reunião com os colegas. Aqueles que são promovidos provavelmente possuem inteligência emocional, uma medida de como uma pessoa consegue controlar suas próprias emoções, assim como as emoções de outras pessoas. A inteligência emocional inclui características como empatia e controle emocional.
O termo "inteligência emocional" ficou famoso quando foi título do livro de Daniel Goleman, de 1995, com um brilhante subtítulo que prometia explicar "por que [a inteligência emocional] pode ser mais importante que o QI". Uma pontuação de QI, número formado pela habilidade verbal, matemática, mecânica e de memória, pode parecer o Santo Graal da inteligência, além de continuar sendo um excelente indicador de como uma pessoa se sairá na escola. Entretanto, o livro de Goleman deu exemplos de quão deficiente pode ser o prognóstico de uma pontuação de QI quanto ao poder, eventual sucesso ou felicidade na vida que uma pessoa pode ter. Por isso, Goleman afirmou que você precisa se concentrar na inteligência emocional e na habilidade da pessoa de usar suas emoções para percorrer o mundo. Embora as pontuações de QI contem com a capacidade da pessoa de identificar uma resposta correta, a vida, às vezes, envolve mais do que uma resposta certa, assim como a habilidade de concordar com mais de um tipo de pessoa.

A inteligência emocional continuou sendo um assunto confuso nos anos que seguiram a publicação do livro de Goleman. Por exemplo, os pesquisadores ainda diferem um pouco quanto à definição precisa para inteligência emocional e à forma como pode ser medida (se puder ser medida de alguma forma, alguns pesquisadores seriam rápidos em acrescentá-la). Mas ao mesmo tempo em que os pesquisadores lutam com o significado da inteligência emocional, eles tentam determinar o que ela quer dizer para nosso cérebro. A inteligência emocional poderia ser mais do que um indicador de sucesso futuro? Ela poderia nos dizer sobre a saúde de nosso cérebro? Nesse artigo, veremos o papel que a inteligência emocional pode ter no prognóstico da probabilidade de uma pessoa sofrer depressão, demência e outros transtornos cerebrais.

Inteligência emocional e o cérebro

A pontuação de QI de uma pessoa permaneceu como padrão nos debates sobre inteligência; é o tipo de número que fica em seu registro permanente. Consequentemente, os cientistas tentaram usar esse pequeno número como uma forma de determinar o estado do cérebro. Tome o exemplo da demência, em que a memória falha e a pessoa começa a perder a capacidade de se lembrar de fatos e tarefas simples. Uma redução da função cognitiva, ilustrada por uma pontuação de QI decrescente, foi usada como modo de prognosticar essa doença.

Entretanto, esse método possui algumas falhas, pois as pessoas com QIs muito altos apresentam os sintomas de demência muito mais tarde, e sua pontuação fica acima das normas preditivas nos testes cognitivos. A pontuação dessas pessoas, então, diminui rapidamente à medida que elas começam a apresentar os sintomas, pois a doença já progrediu. Como sua pontuação fica muito acima das normas, elas perdem valiosas oportunidades de intervenção precoce. De modo contrário, as pessoas com QIs mais baixos correm o risco de serem diagnosticadas erroneamente com demência, pois sua pontuação fica abaixo das normas cognitivas [fonte: APA].

Como a demência geralmente inclui um componente emocional, assim como essas falhas de memória, pode ser útil incluir como fator a inteligência emocional de alguém durante o diagnóstico. Mas como a emoção se decompõe no cérebro? Embora muitas partes do cérebro possam estar envolvidas no controle da emoção, o que vale é o que realmente está acontecendo nos hemisférios direito e esquerdo. O lado direito do cérebro recebe as informações sensoriais relacionadas às emoções e as processa. Em seguida, essas informações são enviadas para o lado esquerdo do cérebro, responsável pela linguagem. Esse lado do cérebro nomeia essas emoções. Também são fundamentais ao processo o cerebelo, a amígdala e o corpo caloso, que transfere as informações entre os dois hemisférios. Embora talvez não saibamos tudo a respeito da inteligência emocional, é razoável presumir que um nível baixo dessa inteligência seja conseqüência do mau funcionamento de uma dessas partes do cérebro.

Mas podemos usar esse conhecimento para determinar a saúde do cérebro? Ainda não, já que os cientistas ainda não sabem exatamente o que causa muitos distúrbios cerebrais. Entretanto, a inteligência emocional pode se mostrar mais valiosa em termos de identificação e tratamento dos fatores de risco. Por exemplo, o tabagismo é um fator de risco para muitas doenças cerebrais, mas um estudo realizado por uma universidade de Barcelona descobriu que os alunos com inteligência emocional elevada tinham menos probabilidade de fumar ou de usar maconha [fonte: Universidade Autônoma de Barcelona]. Esses alunos, aparentemente, eram capazes de controlar seu estado emocional de modo que sentiam menos necessidade de usarem produtos à base de tabaco, embora aqueles com inteligência emocional inferior pudessem consumir drogas para compensar um estado emocional deficiente.

De forma semelhante, apesar de uma pessoa com um QI alto geralmente saber os princípios básicos da nutrição, uma pessoa emocionalmente inteligente pode fazer as escolhas de alimentos corretas. Em um estudo, os pesquisadores descobriram que as pessoas com inteligência emocional superior conseguiam fazer melhores escolhas de produtos nas lojas [fonte: Press Journals da Universidade de Chicago]. A capacidade de selecionar produtos mais saudáveis pode proteger a pessoa emocionalmente inteligente contra o fator de risco extremamente perigoso da obesidade.

A inteligência emocional também foi associada ao melhor controle do estresse e à menor angústia psicológica, além de índices mais baixos de depressão [fonte: Austin et al.]. Quando as pessoas não conseguem reconhecer e controlar suas emoções, a probabilidade é maior de se sentirem insatisfeitas com a vida. Uma pessoa descontente parece achar graça das coisas? Embora possa parecer óbvio, as pessoas emocionalmente inteligentes têm redes sociais melhores para auxiliá-las em caso de doença; a socialização também pode ajudar a impedir o início da demência. Como a pessoa emocionalmente inteligente se relaciona com vários tipos de pessoas, ela também pode ter maior propensão a procurar um médico e a seguir suas orientações [fonte: Austin et al].

Dessa forma, existem aparentemente algumas ligações positivas entre a inteligência emocional elevada e a saúde do cérebro, mas o que acontece quando há falta dessa inteligência?

Alexitimia e falta de inteligência emocional

Em 1991, o psicólogo canadense Robert Hare lançou um estudo indicando que os psicopatas podem ter um cérebro diferente do resto da população [fonte: Nichols]. Embora os psicopatas continuem intelectualmente cientes das regras da sociedade, eles não possuem inteligência emocional. O perfil de um psicopata inclui impulsividade, metas grandiosas sem disciplina ou foco para alcançá-las, tendência a se sentir aborrecido, falta de ligações pessoais próximas e, naturalmente, falta de empatia. Quando Hare monitorou as ondas cerebrais de psicopatas enquanto estes examinavam algumas palavras, como aquelas que despertam inúmeras emoções na maioria das pessoas, descobriu que não havia atividade nas partes do cérebro envolvidas na emoção. Hare descreveu esses psicopatas como sendo "emocionalmente daltônicos" à revista Macleans, em 1996 [fonte: Nichols].

O trabalho de Hare parece indicar que os psicopatas possuem funções cerebrais anormais nas áreas relacionadas ao processamento da emoção e da linguagem - o que significa que existe uma base neurológica para alguns crimes abomináveis, ao contrário de certos fatores ambientais, como violência infantil. Se o QI desses psicopatas fosse testado, o resultado provavelmente seria normal, mas é na falta de inteligência emocional que vemos os transtornos na saúde cerebral.

Se uma pessoa está na extremidade baixa do espectro de inteligência emocional, ela pode apresentar uma condição conhecida como alexitimia, que é a incapacidade de compreender ou expressar as emoções. Com o conhecimento que os cientistas têm sobre as emoções no cérebro, eles criaram a teoria de que a alexitimia pode estar relacionada a um mau funcionamento do hemisfério direito ou a uma hiperatividade do hemisfério esquerdo (ficando o hemisfério direito incapaz de compensar) [fonte: Bermond et al.]. Também é possível que o corpo caloso, a parte do cérebro que controla a comunicação entre os lados direito e esquerdo do cérebro, esteja danificado a ponto de bloquear as mensagens relacionadas à emoção [fonte: Becerra et al.].

A alexitimia, às vezes, manifesta-se após a pessoa sofrer uma lesão cerebral, como um trauma brusco. Mas, no fim, o problema pode nos dizer mais sobre o que acontece durante os distúrbios cerebrais sem esse trauma. Por exemplo, a alexitimia foi associada a transtornos alimentares, distúrbios do pânico e distúrbios de estresse pós-traumático [fonte: Becerra et al.]. A condição também pode fornecer pistas sobre distúrbios do espectro do autismo; um assunto comum dos distúrbios do autismo é a falta de ligação emocional, de modo que as pessoas com o distúrbio não conseguem se apegar a detalhes sociais. A atividade reduzida do cerebelo foi associada ao autismo e à doença de Asperger [fonte: Bermond et al.].

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