Sabe-se que mesmo com o aumento significativo da ingestão de alimentos fonte de carboidratos, nosso organismo apresenta uma limitada capacidade de armazenamento dos glicogênios muscular e hepático. Por outro lado, as reservas corporais de gorduras são bem superiores, mesmo em atletas com reduzido percentual lipídico. Desta forma, uma menor oferta de energia advinda dos carboidratos costuma representar a principal causa da fadiga durante o exercício, de modo que a otimização da oxidação ("queima") de gorduras durante o treino poderia ajudar a melhorar o desempenho durante a atividade física. Além disso, a consequente redução do percentual de gordura corporal também é apelo interessante à saúde e à estética.
Apesar da maioria dos indivíduos ter uma quantidade relativamente alta de gordura acumulada, a habilidade de oxidação desse estoque durante a atividade física é limitada. Alguns autores consideram que essa limitação para a queima de gorduras deva-se à execução ineficiente de alguns dos passos da lipólise (degradação das reservas energéticas para produção de energia) ou ao transporte de substratos, tais como: mobilização dos ácidos graxos (AG) dos tecidos adiposo e intramuscular, transporte dos AG para os músculos e captação destes pelas células musculares.3
Alguns autores acreditam ser a captação de ácidos graxos livres (AGLs) pelas células musculares o principal fator regulador do processo de oxidação desses substratos. Turcotte et al.4 examinaram o metabolismo dos AGLs de indivíduos treinados e não treinados durante três horas de extensão de quadríceps. Apesar da concentração sanguínea de AGLs ter aumentado na mesma proporção para ambos os grupos, a captação deste substrato pelas células musculares do grupamento envolvido na atividade permaneceu a uma taxa de 15% nos indivíduos treinados, enquanto nos indivíduos não-treinados regrediu de 15% para 7%, em especial, durante a última hora de exercício. A captação de AGLs aumentou linearmente conforme a disponibilidade do substrato no primeiro grupo, enquanto no segundo, saturou em certo ponto. Os autores concluíram que possivelmente a passagem de AGLs pela membrana da célula muscular represente o fator limitante da taxa de oxidação de lipídios durante a atividade física, o que pode ser potencializado pela melhora do condicionamento físico com treinamentos de endurance. No entanto, outros fatores também estão fortemente envolvidos na eficiência da oxidação de lipídios, sendo a disponibilidade de glicose (carboidrato simples) importante fator regulador. A alta concentração de glicose no meio intracelular diminui a oxidação dos ácidos graxos de cadeia longa por inibir seu transporte para a mitocôndria (organela celular onde ocorre a "queima" de gordura).5 Se há glicose disponível, a célula oxidará preferencialmente este carboidrato.
O mesmo parece não ocorrer com os AGs, uma vez que sua disponibilidade para a célula em geral é muito maior do que o demandado para a oxidação. A concentração plasmática de AGs em geral excede os níveis necessários para atender à velocidade de oxidação destes pela célula muscular. Estudos recentes sugerem que a taxa de oxidação dos AGs no interior destas células durante o exercício é determinada pela presença de glicose e não pela disponibilidade dos AGs em si.1,2,5
Uma vez que a digestão dos lipídios é em geral mais lenta do que a dos carboidratos, eles permanecem no trato gastrointestinal por mais tempo antes de serem absorvidos pelo organismo. Esse fato contribui para a não utilização dos lipídios como fonte imediata de energia, como são usados os carboidratos.
por Letícia Azen Alves (Nutricionista doutorando em nutriçãopela UFRJ)
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