30 de jul. de 2010

Brasil só perde para EUA em número de academias.

Impulsionada pelo aumento da renda das classes C e D, quantidade de estabelecimentos dobrou de 2007 para cá no País

Uma combinação entre aumento da renda da população e disseminação de um estilo de vida saudável, aliada à definição do Brasil como sede dos dois mais importantes eventos esportivos do mundo está aquecendo negócios ligados a atividades físicas no País. De 2007 para cá, o número de academias no Brasil dobrou para 15.551, deixando o País atrás apenas dos Estados Unidos. O setor gerou receitas de US$ 1,11 bilhão no último ano.

Os dados são do último relatório da IHRSA Association (International Health, Racquet & Sportsclub), entidade internacional do setor. A perspectiva é de que esse mercado continue avançando a passos largos, afirma Waldyr Soares, representante da entidade no País e presidente da Fitness Brasil, que atua no mercado de fitness, saúde e bem-estar, no Brasil e na América Latina. "Nos próximos dez anos, seremos o grande país na área de atividade física, saúde e bem-estar. O segmento que mais vai crescer é o de academias de baixo custo, graças à ascensão das classes C e D."

É nesse mercado que a SmartFit está de olho. Lançada em agosto de 2009, a academia oferece um número restrito de atividades a preços baixos. Já tem oito unidades em quatro capitais e planeja abrir dez academias por ano. O presidente, Edgard Corona, afirma que o objetivo é atrair um público que não estava sendo atendido. "Pessoas que queriam fazer só musculação ou esteira, tinham de pagar pela estrutura de uma grande academia."

Segundo Corona, 70% das pessoas que se inscrevem na SmartFit nunca tinham pago para se exercitar. As primeiras unidades foram abertas em bairros nobres como Copacabana, no Rio, e Morumbi, em São Paulo. Para Soares, da IHRSA, a estratégia da empresa é usar essas regiões como vitrines e depois se expandir pela periferia.

A rede A!Body Tech, de academias voltadas para a classe A, também se prepara para entrar no segmento de baixo custo. A partir do ano que vem, as academias Fórmula, de São Paulo, adquiridas em 2008, funcionarão sob a bandeira BodyTech, e a marca paulista será usada em um projeto voltado para as classes B e C, conta Luiz Urquiza, um dos sócios.

"A ideia é desenvolver um produto com oferta de serviços simplificada - atividade cardiovascular, musculação e pouca coisa coletiva, como spinning". O modelo de negócios será o de franquias. Até o fim do ano, duas unidades piloto serão montadas na periferia do Rio e as primeiras franquias devem ser concedidas no segundo semestre de 2011.

Financiamento. Os planos da A!Body Tech mostram que as grandes academias também têm espaço para expandir. Até junho de 2010, a empresa inaugura sete novas unidades premium em São Paulo, Rio, Belo Horizonte, Vila Velha (ES) e Brasília. "Sairemos de 45 mil para 65 mil alunos", diz Urquiza. Até o fim do ano, serão investidos R$ 67 milhões.

A estratégia da empresa é fazer sua oferta pública inicial de ações (IPO) em 2015. Do total a ser investido, R$ 26 milhões devem vir de um financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) - em fase final de análise - por meio das linhas da Finame, direcionadas à aquisição de máquinas e equipamentos. O montante é elevado se comparado aos R$ 33,6 milhões desembolsados para 561 academias de 2007 a junho deste ano.

A euforia das academias contagia a indústria e o comércio de equipamentos. Em setembro, a IHRSA Fitness Brasil, feira de negócios do setor, espera 15 expositores estrangeiros que estão vindo ao País pela primeira vez.

Neste mês, a Rio Sports Show, feira de negócios ligados a atividades físicas, mais que dobrou de tamanho ante a edição do ano passado. "Saímos de 60 para 140 expositores e a visitação saiu de 9.600 para quase 40 mil", conta a organizadora Ana Paula Graziano. "A Copa e a Olimpíada no Brasil contribuíram para isso."

3 de jul. de 2010

Conheça os benefícios e os riscos do treinamento de musculação na adolescência.

Médicos alertam que, quando iniciada cedo demais, a atividade pode trazer sérios danos ao desenvolvimento

O interesse dos adolescentes pela musculação tem se manifestado cada vez mais cedo. Não é mais novidade o filho de 12 anos chegar em casa pedindo aos pais para entrar na academia. A malhação tornou-se uma atividade física popular, que alimenta os sonhos de tornar corpos esguios em corpos sarados. O pedido, porém, faz muitos pais tremerem diante de um turbilhão de dúvidas. Afinal, a musculação pode ser feita na adolescência? Ela atrapalha o crescimento? Leva à atrofia dos músculos? Não seria melhor continuar na velha e boa escolinha de futebol, fazendo vôlei ou natação?

Até pouco tempo atrás, os especialistas seriam unânimes em proibir a musculação durante a puberdade. Os hebiatras – médicos especializados em adolescentes –, todavia, têm substituído a proibição por uma recomendação: a de ter cuidado com a quantidade de peso usada nos exercícios e acompanhar o que o filho faz na academia. “A musculação pode sim ser feita na adolescência, desde que bem supervisionada e sem a intenção de ganhar musculatura”, afirma Ricardo Barros, coordenador do grupo de medicina esportiva da Sociedade Brasileira de Pediatria.

Mas, se não é para ganhar músculos, para que serve a musculação nessa fase? Assim como outras atividades, ela evita o sedentarismo, melhora o condicionamento cardiovascular, a flexibilidade e as habilidades motoras. Aumentar a massa muscular, no entanto, só pode se tornar objetivo após o pico do estirão do crescimento, quando o corpo deixa para trás as feições infantis e ganha as características adultas. Nas meninas, ele costuma ocorrer entre 12 e 14 anos. Nos meninos, entre 14 e 16 anos. “Antes disso, o menino, por exemplo, não possui nem testosterona suficiente para ganhar massa muscular”, diz Barros. A testosterona é o hormônio responsável pelas características masculinas.

O risco de começar a fazer musculação antes do auge do estirão, com o objetivo de ganho de músculos – o que implica uso de cargas pesadas –, é de um sério prejuízo ao crescimento e de ocorrer danos à coluna (leia mais no quadro à pág. 118). “É preciso ter em mente que a musculação não é proibida, mas deve ser feita dentro dos limites dos adolescentes, diferentes dos limites dos adultos”, explica Paulo Zogaib, professor de medicina esportiva da Universidade Federal de São Paulo. “Não se pode impor grandes sobrecargas de peso a estruturas que ainda não estão completamente maturadas”, diz.

Por isso é importante escolher bem o lugar para a prática. Algumas academias oferecem treinos para quem tem entre 10 e 16 anos. Eles são baseados em exercícios simples, de menor intensidade e sem carga ou com pesos mínimos. Segundo os especialistas, o peso máximo a ser usado na musculação para os mais novos não deve ultrapassar cinco quilos.

Segurar os anseios dos adolescentes também é fundamental e deve ser prioridade do profissional responsável pelo jovem. “Quando comecei, pensava em ficar forte. Mas meu professor falou que ainda não era hora e que o melhor era priorizar os exercícios de resistência”, conta Lincoln Pereira Pasitto, 14 anos, há cinco meses fazendo mus­culação.

Não é só a musculação, porém, que, feita de maneira errada, representa riscos ao desenvolvimento. “A sobrecarga de exercícios pode acontecer até mesmo nas escolinhas de esportes”, diz o hebiatra Maurício de Souza Lima, do Hospital das Clínicas de São Paulo. Por essa razão, os pais precisam estar atentos aos filhos. “Se o adolescente começa a demonstrar muito cansaço, dormindo sempre que entra no carro ou mesmo em uma fila, é porque tem algo errado e isso pode ser excesso de atividade física”, explica Lima.



Atenção redobrada deve ser tomada com quem treina para se tornar atleta de alto rendimento. “A tendência é de exagerar nos exercícios preparatórios para as competições”, alerta Lima. A recomendação é de não competir antes dos 13 anos, mas há algumas modalidades, como a ginástica olímpica, em que os campeonatos começam mais cedo, aos 9 anos. Como consequência, fazem-se exigências severas a corpos ainda em desenvolvimento, que pode ter como resultado a interrupção do crescimento ou, no caso das meninas, o retardamento da primeira menstruação.

De tão delicado, o treinamento deve ser acompanhado por profissionais qualificados para que o esforço pedido ao corpo não seja excessivo. “Mesmo no caso de atletas de competição, o estirão do crescimento deve ser respeitado. A complementação com musculação, por exemplo, só é feita para os atletas que já passaram dessa fase”, explica Danilo Bornea, técnico de ginástica artística do Clube Pinheiros, em São Paulo. A menina Ingrid Lima Messias, 14 anos, treina desde os 5 anos, já compete, mas, obedecendo à recomendação do treinador, ainda não iniciou a prática da musculação.

Os cuidados não podem ser entendidos como impeditivo da atividade física na puberdade. É consenso que o adolescente deve fazer exercícios, desde que sejam bem orientados. Entre os preferidos – por eles próprios e também pelos especialistas – estão os esportes coletivos. Além dos benefícios para o corpo, há o saudável aprendizado da convivência. Mas é fundamental que o jovem escolha a modalidade. Giulia Carvalho Oliveira, 13 anos, optou pelo vôlei há quatro anos. “Adorei e nunca mais saí”, fala. Só que nem sempre a criança é assim tão decidida. O mais comum é que sinta vontade de mudar após algum tempo. Essa indefinição, muitas vezes entendida pelos pais como uma incapacidade de o filho se decidir, é, na verdade, natural e saudável. “Quando eles fazem isso estão escolhendo o que melhor se adapta ao seu perfil e às suas habilidades”, explica o pediatra Ricardo Barros.

por Rachel Costa

Por que eles comem tanto

Um estudo do Instituto Nacional de Saúde da Criança dos Estados Unidos mostrou que, sim, os adolescentes têm o apetite elevado. Mas o aumento ocorre em idades diferentes para meninos e meninas. Elas sentem mais fome entre 10 e 13 anos. “É uma necessidade que está de acordo com o maior desenvolvimento das garotas no começo da puberdade”, diz Jack Yanovski, que liderou o estudo. Já os meninos iniciam a fase de comilança aos 14 anos e seguem comendo muito até os 17, em média. Nesse período, chegam a consumir duas mil calorias em uma única refeição. É o equivalente às calorias consumidas por um adulto durante um dia inteiro. “É a fase do estirão e amadurecimento sexual dos meninos, em que a demanda energética aumenta”, explica o pesquisador.

É exatamente o que está acontecendo com Pedro Daud, 15 anos, de São Paulo. “Repito o prato mais de uma vez. Às vezes tento esquecer a fome fazendo outra coisa”, conta. Os pais devem observar a evolução do ganho de peso durante o período do estirão, para evitar o desenvolvimento da obesidade. “Estudos sugerem que garotos com sobrepeso nessa fase têm maiores chances de serem adultos obesos”, diz Yanovski.

De toda forma, há nutrientes indispensáveis na dieta dos jovens. “Dos 8 aos 12 anos, não podem faltar à mesa alimentos que sejam fontes de ferro, para prevenir anemia. Alguns exemplos são as carnes vermelhas, o feijão e o agrião”, diz a nutricionista Cynthia Antonaccio, da Consultoria Nutricional Equilibrium, de São Paulo. Leite e derivados precisam ter lugar garantido para fornecer o cálcio que irá para os ossos. A vitamina A (presente em vegetais amarelos) para a manutenção da visão também é importante.