Há 14 anos, Thomas Perls, professor e pesquisador da Universidade de Boston (EUA), estuda pessoas longevas, um dos segmentos da população que mais cresce no mundo - especialmente em nações desenvolvidas. O estudo mais recente do geriatra, que comanda o New England Centenarian Study, identificou características comuns aos filhos de centenários: eles são mais extrovertidos e menos neuróticos do que a média da população, sabem lidar melhor com o stress e são menos solitários e deprimidos. O objetivo era entender o efeito que a personalidade de uma pessoa exerce sobre a duração de sua vida. Perls, que estará no Rio no próximo dia 25 para uma conferência sobre qualidade de vida, falou a VEJA.com sobre suas descobertas.
Por que analisar as características dos filhos das pessoas que ultrapassaram a barreira dos cem anos, e não os centenários em si?
Apenas 20% dos centenários são inteiramente lúcidos. Os demais apresentam deficiências, principalmente de memória, de intensidades variadas. Isso não significa que não seja maravilhoso ser um centenário, já que é comprovado que a maioria deles só sofre de males ligados ao envelhecimento, como as doenças cardiovasculares, os acidentes vasculares cerebrais e a diabetes, depois dos 95 anos. Mas, em relação às faculdades mentais, seus filhos, que têm entre setenta e oitenta e poucos anos, são mais plenos. Além disso, sabemos que os descendentes de centenários seguem os passos de seus pais no que diz respeito a envelhecer lentamente - as chances de eles sofrerem de doenças relacionadas à idade são até 60% menores, se comparadas às de pessoas nascidas na mesma época.
Quais foram os resultados do estudo?
A principal constatação, que nos deixou surpresos, é o quanto os filhos de centenários são diferentes da população em geral. Com base na análise da personalidade de 250 deles, de diferentes famílias, descobrimos que eles são muito mais extrovertidos e apresentam comportamentos muito menos neuróticos do que os indivíduos em geral.
Na prática, o que isso significa?
Em relação à extroversão, significa que eles têm mais facilidade para estabelecer relacionamentos importantes e saudáveis, que os estimulam intelectualmente e os tornam menos sozinhos e deprimidos - os centenários e seus filhos tendem a ser muito sociáveis e divertidos e costumam ter muitas pessoas ao redor. No que diz respeito ao comportamento neurótico, significa que eles lidam bem com situações de stress, que são capazes de superá-las com facilidade. E o stress é tido como um dos importantes fatores de aceleração do envelhecimento, sendo associado a doenças do coração, à pressão alta e aos derrames.
Há diferença entre homens e mulheres?
Normalmente, os homens e as mulheres têm personalidades bem diferentes. Mas, no caso estudado, eles se mostraram surpreendentemente semelhantes. Exceto para amabilidade, quesito no qual as mulheres obtiveram uma pontuação um pouco mais alta, os resultados para os dois gêneros foram bem parecidos. Isso pode sugerir que os homens que vivem mais tendem a ser mais parecidos com as mulheres, em termos de personalidade.
Além da personalidade, que outros fatores são determinantes para uma pessoa viver até os cem anos?
Cerca de 80% da nossa capacidade de viver até perto dos 90 anos - dez anos a mais do que a expectativa média de vida nos EUA e no Canadá - está relacionada a hábitos saudáveis. Pessoas que fumam, comem muita carne vermelha, são obesas, sedentárias ou não administram bem situações de stress morrem aproximadamente dez anos mais jovens do que aquelas que levam uma vida saudável. Mas aquelas que vivem mais do que 90 anos, além de manter hábitos saudáveis, têm, na maioria das vezes, um retrospecto de longevidade excepcional na família.
Uma pessoa é capaz de ajustar sua personalidade para viver mais?
Eu não saberia dizer. Mas acho que se pode aprender muito a partir das características dos filhos de pessoas longevas, de forma a compensarmos predisposições negativas. É o caso de aprender a lidar melhor com situações de stress. O importante não é exatamente a quantidade de stress que você tem na sua vida, mas, sim, como você o administra. Praticar exercícios físicos, meditar, fazer ioga, rezar, estar com a família e até mesmo saber quando parar e respirar fundo podem ajudar muito a minimizar o impacto do stress para a saúde.
Como surgiu a ideia para o estudo?
Assim que começamos a estudar os centenários, em 1994, notamos que eles eram pessoas com uma extraordinária habilidade de lidar com situações estressantes. Desde então, tentamos entender o porquê disso. Os testes de personalidade que aplicamos nos filhos dos centenários, cujos resultados publicamos na revista da Sociedade Americana de Geriatria, são parte desse esforço.
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