Pobreza e mérito
De que forma os desníveis na Educação podem reforçar as desigualdades sociais nas cidades? Esse foi o questionamento central da conferência Transformações Urbanas e Declínio da Instituição, proferida por François Dubet, diretor de Estudos na École des Hautes Études en Sciences Sociales e professor do Departamento de Sociologia da Université Victor Segalen Bordeaux 2.
No evento, realizado na UFRJ, Dubet problematizou o ensino meritocrático e a segregação espacial das escolas francesas.
O sociólogo contou que, cada vez mais, os colégios da França são espacialmente organizados de acordo com o bairro e a classe social dos indivíduos. "Os ricos estão em bairros e escolas ricas e os pobres em bairros e escolas pobres", disse. Ele enfatizou que o ato de reunir nas mesmas escolas alunos oriundos de classes menos favorecidas afeta negativamente o desempenho dos estudantes.
Bons estudantes nos bairros populares
Para fugir a essa realidade, as famílias abastadas das regiões carentes matriculam seus filhos em escolas mais bem estruturadas, em bairros nobres, o que gera, segundo Dubet, um efeito coletivo de degradação das regiões pobres.
"Os bons alunos das localidades menos favorecidas fogem para outros lugares e, consequentemente, as elites também saem de lá. Processo semelhante ocorreu nos Estados Unidos: a elite negra deixou os guetos e os guetos nunca mais se recuperaram dessa fuga", lembrou o professor, pontuando que a solução para o êxodo reside em uma política que ofereça ensino de qualidade, com professores experientes e recursos financeiros suficientes, para fixar os bons estudantes nos bairros populares franceses.
Respeitando as diferenças
Na opinião do palestrante, a acentuada distância cultural verificada nas escolas da França projeta desigualdades sociais nas cidades, na medida em que pobres e ricos, apesar de possuírem igualdade de acesso ao ensino, não detêm igualdade de condições.
"A grande questão da nossa sociedade é como colocar indivíduos iguais em posições sociais diferentes. Para resolver esse problema, foi organizada uma competição justa chamada sistema escolar, que hierarquiza os estudantes de acordo com seu mérito e talento. Esse modelo de justiça foi construído, entretanto, sobre uma ficção", explica Dubet.
O erro do mérito na educação
O sociólogo critica veementemente a lógica meritocrática que rege o ensino francês. De acordo com ele, o sistema pautado no mérito individual é cruel por atribuir unicamente ao estudante a responsabilidade por seu fracasso ou vitória. Além do mais, esse sistema fomenta uma "cultura juvenil antiescola", na qual os bons alunos são maltratados, o professor é encarado como um inimigo e o fracasso escolar é valorizado.
Embora tenha focado a análise do sistema educacional francês, Dubet deu importantes contribuições para o entendimento da Educação Brasileira. Segundo o professor, "a melhor escola é aquela que trata os piores alunos da melhor maneira possível". Dubet ressaltou ainda que o sistema escolar deve primar pela diversidade social de seus alunos e enfatizou a necessidade de a escola valorizar conhecimentos humanísticos que vão além da seleção e da hierarquização de saberes. "Ser bom em Matemática é imprescindível; ser gentil com os colegas é inútil. Temos que rever esses valores", alertou.
por Aline Durães
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