Cientistas brasileiros provam que é possível controlar o problema com comprimidos, sem necessidade de cirurgia
A expressão “suar em bicas” pode parecer exagero para muita gente. Não para o corretor de imóveis Hamilton Fernando Silva, 41 anos, portador de hiperidrose – um distúrbio nas glândulas sudoríparas no qual elas trabalham demais e levam a pessoa a transpirar muito além do normal. Para evitar o constrangimento do excesso de suor descendo pelo rosto, fizesse frio ou calor, Silva criou o hábito de andar sempre com uma toalhinha. A companheira inseparável, porém, foi aposentada há oito meses. Na verdade, substituída. Em vez do pedaço de pano, ele agora leva consigo comprimidos de oxibutinina, que toma uma vez por dia. “É maravilhoso. Antes precisava enxugar o rosto o tempo todo. Com a medicação, isso acabou”, comemora.
Silva é um dos participantes de um estudo recém-concluído da Universidade de São Paulo sobre o uso da oxibutinina para o tratamento da hiperidrose. Os resultados desse trabalho, coordenado pelo médico Nelson Wolosker, professor do departamento de cirurgia vascular, são alentadores: entre 50% e 70% dos pacientes responderam bem ao medicamento. “Antes, as opções disponíveis para tratar o problema eram a cirurgia ou o botox”, fala Wolosker. No entanto, o efeito da toxina botulínica não é definitivo e a substância precisa ser reaplicada periodicamente. O procedimento cirúrgico também não é garantia de cura. Há pessoas que, após a operação, passam a suar exageramente em outras regiões do corpo. É a chamada hiperidrose compensatória.
As tentativas de usar remédios contra a hiperidrose não são novidade. Substâncias da mesma família da oxibutinina são testadas há décadas, sem muito sucesso devido aos efeitos colaterais. O avanço obtido pelo grupo brasileiro foi testar a oxibutinina e minimizar as reações adversas. “Dor de cabeça e boca seca eram as principais reclamações”, conta Wolosker. Além disso, a oxibutinina provou ser uma solução para quem desenvolve a forma compensatória da doença. Por isso há expectativa pelo uso do tratamento por outros especialistas. De acordo com o presidente da Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular, Guilherme Pitta, o órgão aguarda apenas a publicação dos estudos para divulgar a nova diretriz aos seus associados. “Com a comprovação científica da eficiência do método, podemos orientar outros médicos a usá-lo também”, diz Pitta.
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